A memória indígena contada pelo próprio índio na Costa Verde
Vinicius Zepeda
Vinicius Zepeda
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Jovens índios da tribo Guarani de Bracuí (na frente)
e jovens não índios: unidos num mesmo projeto |
O projeto contemplará ao todo 30 jovens, 10 deles representantes da comunidade indígena Guarani de Bracuí. Os demais virão das escolas estaduais de ensino médio de Paraty e Angra dos Reis. Apesar de prever atenção especial aos jovens indígenas, o projeto contempla dinâmicas que incluirão a troca de conhecimento e mesmo um trabalho de campo conjunto entre os guaranis e os demais adolescentes. "No caso dos índios, a idéia é que eles aprendam práticas de pesquisa arqueológica a fim de que possam resgatar e, eventualmente, passar para as futuras gerações da sua tribo a memória histórica de seu povo", explica Nanci Oliveira. "O intercâmbio dos índios com os demais jovens permitirá ainda ampliar o alcance do projeto, oferecendo igualmente um aprendizado aos estudantes dos municípios envolvidos", acrescenta.
Os recursos para manter o projeto já estão garantidos pelos próximos dois anos. O começo das atividades, que serão realizadas em um laboratório cedido pela Eletronuclear, está previsto para o mês de maio, quando terão início, sempre às sextas-feiras, o programa de três horas semanais de trabalho junto aos orientadores. O grupo terá ainda mais cinco horas adicionais para cumprir deveres de casa como documentação e catalogação de materiais encontrados, pesquisas e trabalho de campo a serem feitos na região.
"Contaremos com o apoio de outros quatro pesquisadores nas áreas de arqueologia e preservação ambiental", adianta Nanci. Nesta última, o projeto contará com a participação do ambientalista Alexandre Kubota da Eletronuclear, uma das empresas parceiras do projeto. "A empresa nos cedeu o laboratório com toda a infra-estrutura necessária para a realização de nossos encontros. Eventualmente, realizaremos também excursões ao Laboratório de Antropologia Biológica da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), na qual faço parte do corpo docente", explica.
Segundo a coordenadora, a permanência dos jovens no projeto ficará sujeita ao rendimento escolar de cada um dos selecionados. "Se o jovem não conseguir conciliar o trabalho dentro do projeto com suas tarefas escolares ele será imediatamente desligado", avisa Nanci. "Temos certeza de que a participação dos jovens no projeto abrirá um novo horizonte no conhecimento desses adolescentes. Entretanto, ele não pretende, nem deve, de forma alguma substituir o ensino da escola", adverte.
A diversidade cultural e étnica brasileira
Os jovens guaranis falam o português e o idioma guarani. A sociedade é patriarcal e os contatos com outras civilizações são feitos sempre através dos homens. Os garotos são extremamente dóceis e tímidos, assim como as meninas. Eles só aceitam iniciar uma conversa depois da intermediação da arqueóloga Nanci Oliveira, amiga pessoal dos índios. No caso das mulheres, nem a presença de Nanci ajuda. Seguindo a tradição cultural de sua tribo, elas simplesmente não respondem às pessoas que não fazem parte de seu 'mundo'. "As meninas e meninos indígenas me escutam e conversam comigo porque têm um forte vínculo de amizade e confiança desde pequenos Alguns destes adolescentes eu inclusive tenho fotos de quando ainda eram crianças", recorda.
Vinicius Zepeda |
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Trabalho com os jovens irá contribuir para a preservação ambiental em Angra (foto) e Paraty |
Logo numa das primeiras etapas do programa, os participantes terão um curso introdutório sobre arqueologia e meio ambiente. Em seguida, farão o trabalho de campo identificando materiais e fazendo levantamentos sobre as características ambientais dos municípios de Angra dos Reis e Paraty. "Os sítios arqueológicos pesquisados até o momento são pré-coloniais e possuem estruturas de fortificações. Os adolescentes terão a chance de contribuir com novas informações e até com a descoberta de novos sítios", afirma Nanci Oliveira.
Professora adjunta do Departamento de Ciências Sociais do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Uerj, Nanci acredita que o projeto dará aos jovens a possibilidade de ver sua região sob novos prismas e, a partir daí, privilegiar a valorização da memória e da história local. "Além disso, ele receberá noções de cidadania e atuará como agente de preservação ambiental", explica. "As experiências adquiridas ao longo das atividades permitirão uma expansão do saber acadêmico e auxiliarão esses estudantes em suas futuras escolhas profissionais", acrescenta.
Outro aspecto positivo do trabalho, de acordo com a coordenadora, é a possibilidade de construção de uma cidadania para os jovens. "Com este trabalho, iremos não só levantar registros arqueológicos das populações que ocuparam a região, mas também elaborar estratégias de defesa do litoral Sul fluminense", explica Nanci. Ela acredita que para os jovens, esta será uma rara oportunidade de travar um conhecimento maior com a complexidade social e cultural da região. "Isto inclui os habitantes de hoje e de outrora, de colonizadores a representantes indígenas, passando por imigrantes, africanos, corsários, entre outros", conclui.
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